Serpro vai monitorar funcionários e remover conteúdos na Internet

Norma TR nº 079, cuja vigência teve início no dia 21 de agosto de 2020, tem por objetivo o “cultivo e a preservação da imagem positiva da empresa”. Por meio dela, a direção da estatal conferiu poderes à área de Comunicação e Marketing da empresa, para monitorar o comportamento dos funcionários nas redes sociais e tomar medidas judiciais para a remoção de conteúdos.

A norma é assinada pelo Diretor Jurídico e de Governança, Gileno Gurjão Barreto – que deverá assumir a presidência do Serpro – e o Superintendente de Controles, Riscos e Conformidade, Tiago de Andrade Lima Coelho.

Arapongagem

Pela primeira vez a área de Comunicação e Marketing de uma estatal é acionada oficialmente para bisbilhotar a vida de funcionários em redes sociais, com o intuito de verificar se eles estão ou não satisfeitos com a empresa. E maior novidade ainda é que, com base em parecer deles, processos administrativos serão instaurados contra funcionários que de alguma forma tenham se manifestado em suas páginas pessoais nas redes sociais essa insatisfação.

Até então, a preocupação dessas áreas com a “boa imagem da empresa” dizia respeito ao monitoramento de conteúdo jornalístico, que pudesse de alguma forma prejudicar a reputação da estatal, na ótica de diversas direções que passaram pelo Serpro. Para cumprir essa função, boas assessorias buscaram interagir com a imprensa com o objetivo de minimizar o impacto de notícias ruins. Mas fazer trabalho de “arapongagem” de funcionários não está entre essas práticas, tanto que nem consta das atribuições da sua “Política de Comunicação”, criado em 21 de dezembro de 2019.

Não consta e nem tudo o que está contido nesse documento ela cumpre. Pois na sua “Política de Comunicação” a atribuição dessa área do Serpro seria “fortalecer o relacionamento da Empresa com a mídia especializada em TI”. Este site atesta que nunca foi procurado por essa assessoria, nem para tirar dúvidas de reportagens que publicou, nem tampouco para tentar uma aproximação com o corpo diretivo da estatal.

Talvez porque no mesmo documento a “estratégia” da Comunicação do Serpro seja fazer um assessoramento de imprensa voltado a “buscar um relacionamento mais estreito com a mídia especializada (parceiros estratégicos do Serpro), intensificando a divulgação assertiva da marca Serpro”. Como este site não é “parceiro” de ninguém…

Também é de se registrar que, em 20 anos de cobertura especializada feita por este site – salvo alguns casos específicos de funcionários, que até já foram demitidos da empresa – não foram registradas ações do corpo funcional na Internet com o objetivo de prejudicar a imagem da empresa. Se valendo, inclusive, de documentação interna do Serpro para comprovar tais insatisfações.

Pelo menos no caso deste site, as informações que podem estar incomodando a direção da empresa, normalmente chegam por meio do Diário Oficial da União, da Lei de Acesso à Informação e, em determinados casos, informações vindas das bases de dados do Serpro que dizem respeito a processos de compras de bens e serviços e determinadas ações da diretoria. Informações que são protegidas pelo direito da imprensa de não revelar a fonte, mas que não guardam relação com quebra de sigilo fiscal ou empresarial de pessoas físicas ou jurídicas.

Privatizações

A decisão tomada agora contradiz com alguns passos que o próprio BNDES vem recomendando num roteiro que elaborou para execução do processo de privatização do Serpro e da Dataprev. No qual sugere uma “boa comunicação interna com os funcionários”, além do corpo diretivo. Inclusive com a contratação de uma empresa com experiência em Assessoria de Imprensa para potencializar a “Comunicação para fora”, de forma a vender uma imagem dos benefícios que o país terá com a venda das estatais de TI.

*Pelo que se tem visto do Serpro, falta “comunicação para fora”, mas sobra interesse em censurar funcionários insatisfeitos nas redes sociais com a perspectiva de perderem empregos após uma privatização. Que até agora tem sido pouco explicada pelo governo do ponto de vista dos benefícios que sugere que o país terá.