Falta cultura nerd e ousadia nos processos de compras públicas e privadas de TI do Brasil (2)

Na primeira parte da entrevista com a Gerente-Geral da Rimini Street, Edenize Maron, encerramos o bate papo com ela comentando que “falta a cultura nerd” na alma de gestores públicos ou privados, de forma a que eles estejam abertos a ousar e inovar em seus processos de compras, sempre com a mente focada em novas tecnologias que o tirem da atual zona de conforto em que vivem. Segundo ela, o mercado norte-americano já entendeu isso e vem chamando técnicos brasileiros, graças à competitividade e criatividade que eles têm demonstrado nos serviços ofertados pela Rimini. “Nós viramos aqui no Brasil, um fornecedor de mão de obra mais qualificada, que deixa a empresa mais competitiva lá fora”, relata.

Isso me fez indagar a ela, se o modelo das grandes fábricas de software está exaurido no Brasil e no mundo. Para Edenize, no futuro, ainda haverá grandes empresas de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC´s) com centenas de colaboradores, mas em um formato diferente do que ocorre atualmente. Segundo ela, o modelo em que se tem uma ideia e a coloca em prática para avaliar o seu funcionamento está se disseminando.

Porém, a seu ver, tem que se ter muita atenção a isso ainda, porque esse novo modelo gera problemas de governança do legado. “Hoje, já há uma preocupação sobre como governar, pois, quando um jovem ou uma área cria uma aplicação fantástica que passa a ser core business, se não houver uma governança, a empresa fica com problemas. Portanto, a tendência é desenvolver processos decentralizados por meio de home office, mesmo ao final do período da pandemia. Aliás, muitas empresas, como a que eu trabalho, nasceram home office e contam com um excelente processo de gestão, obedecendo algumas dinâmicas”, comenta.

Na avaliação da gerente, é preciso investir na qualificação das pessoas. ”hoje, há muitos empreendedores. Não só sentido de se montar uma Startup, mas no fato de terem iniciativa”. Segundo Maron, o Brasil hoje figura acima entre os 70 países no ranking de inovação, com 30% de produção de software local. Em contrapartida, está entre as 10 nações que consomem tecnologia no mundo “É muito pouco para um país deste tamanho”, comenta. De acordo com a executiva, para se avançar, neste sentido, é preciso investir nas universidades públicas.

Em relação à mão de obra no Brasil, Edenize Maron, a mão de obra no setor de TIC´s tem muita qualidade, e “com o dólar a R$ 5,6, a prestação do serviço está de graça”. No entanto, ela diz que, no caso específico da Rimini Street, esta cotação gera a necessidade de uma boa gestão financeira, uma vez que os contrato no Brasil são em Reais, com alguma indexação. “O resultado é que a empresa fatura um pouco menos em dólar do que gostaria”. No entanto, a boa gestão financeira compensa.

Mas, para garantir eficiência no processo, é importante montar uma equipe mesclada com profissionais experientes e os jovens, que trazem novas ideias. “Não faz sentido pegar todo o legado de empresas como Banco do Brasil e Dataprev, substituir por aplicações e dispensar o que foi construído no passado. O ideal é a convivência destes dois mundos”, avalia. Ainda, em relação e à mão de obra no setor de TICs.

Edenize Maron reforça que a equipe americana vem fechando contratos na área de governo nos Estados Unidos e quem começou a dar o suporte foram os profissionais brasileiros. “Nós viramos aqui no Brasil, um fornecedor de mão de obra mais qualificada, que deixa a empresa mais competitiva lá fora”, relata.

Não perca a primeira parte da entrevista?

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