Desinformação leva Globalweb ao prejuízo estimado de R$ 158 milhões (I)

A Globalweb Outsourcing encaminhou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro questionando a forma como vem sendo tratada por diversos órgãos do governo que, sem nenhuma restrição de caráter técnico, vem cancelando contratos de prestação de serviços com a empresa. O prejuízo informado pela empresa em sua mensagem ao presidente já chegou a R$ 158 milhões.

Além disso a empresa tem sido impedida de participar de licitações, sem que sequer tenha sido formalmente declarada “inidônea” no mercado governamental. Mesmo que tenha competência técnica para disputar a concorrência. O resultado dessas ações já causou um abalo na situação financeira da empresa, que já teve de demitir pessoal qualificado para poder se manter no mercado de Informática.

Tráfico de desinformação

Os contratos que mantinha no governo foram cancelados após a empresária Cristina Boner ter seu nome associado em sucessivas notícias sobre “tráfico de influência no governo”.

Segundo esse noticiário – que ocorreu entre os meses de julho a novembro do ano passado – a empresária Cristina Boner teria sido beneficiada com renovações de contratos e novos acordos comerciais no Governo Bolsonaro, simplesmente porque foi casada com o advogado Frederick Wassef, que trabalha para a família do presidente.

Sem nenhum dado concreto para justificar o suposto tráfico de influência, além de pesquisa mal feita no Portal da Transparência, as reportagens davam conta de que a empresária ganhou entre janeiro de 2019 a junho de 2020, além de aditivos, contratos novos que totalizariam cerca de R$ 218 milhões.

Na época a imprensa buscou traçar um paralelo entre a dona da Globalweb e o advogado Wassef, pelo fato dele ter sido flagrado pela Polícia Civil de São Paulo escondendo em sua casa de Atibaia o ex-policial e ex-assessor Fabrício Queiroz, que trabalhou com o então deputado estadual Flavio Bolsonaro (hoje senador).

Queiroz foi preso e responde a processo pelo Ministério Público do Rio de Janeiro no “escândalo das rachadinhas”, que envolvia o gabinete do ex-deputado Flavio Bolsonaro, quando teve mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro.

Cristina Boner foi casada com Wassef, votou em Bolsonaro e chegou a apoiar a sua campanha, mas na época das reportagens já estava separada do advogado. O que não significa que tivessem deixado de se comunicar e continuar sendo amigos após o relacionamento fracassar. Ela nunca negou que mantinha contatos com Wassef que continuou, inclusive, a frequentar a sua casa.

TCU turbinou noticiário desfavorável

Porém, o processo de desmonte financeiro da empresa ganhou corpo, quando o Tribunal de Contas da União tomou a atitude de investigar as denúncias. Não que o órgão de controle estivesse errado ou não fosse a sua atribuição investigar. O problema foi a forma como procedeu e deu publicidade ao caso.

O procurador do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado, ao tomar conhecimento das denúncias da imprensa, solicitou ao tribunal apuração das notícias junto à Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (Sefti). Até aí, tudo bem, era o seu papel pedir as investigações, afinal de contas havia na imprensa denúncias de “tráfico de influencia” em contratos do governo.

Ocorre que o procurador não esperou pelos resultados. Tratou de correr imediatamente para a mesma imprensa que denunciava o caso, para anunciar a adoção da investigação. Sem levar em conta o estrago que poderia causar à imagem da empresa no mercado, pois até aquele momento sua decisão de investigar se baseava apenas em denúncia sem fonte ou algum documento que pudesse atestar as suspeitas do referido “tráfico de influência”. Inconscientemente ou não, Lucas Furtado agiu como se estivesse tentado apagar um incêndio, de grandes proporções para a imagem de uma empresa, com querosene. Diversos parlamentares também embarcaram nessa situação no afã de aparecer e não de efetivamente esclarecer alguma coisa. Afinal de contas, tratava-se de acertar um alvo de interesses deles: Jair Bolsonaro.

A única informação que sustentava a denúncia eram contratos renovados no início do Governo Bolsonaro. Mas que sequer eram novos, pois em sua maioria vinha de governos anteriores e anualmente são renovados pelos órgãos públicos. Até que finde o prazo máximo de contratação pelo mesmo edital de licitação que gerou o acordo comercial que é de cinco anos.

Apesar de todas as negativas da empresa de que estivesse faturando horrores num governo, inclusive mostrando todas as suas planilhas, a imprensa, turbinada pela possibilidade que o TCU deu de continuar a atacar o verdadeiro alvo político que era o advogado Frederick Wassef e a família Bolsonaro, não parou com a campanha.

Cristina Boner e família passaram por um verdadeiro raio-X na imprensa, mas sempre sob a mesma ótica inicial do bombardeio midiático: a empresária “praticava tráfico de influência”, porque tinha contratos da ordem de R$ 218 milhões com governo e foi casada com o advogado dos Bolsonaro.

Reviravolta que não houve

A Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação do TCU no mesmo período, cumprindo a petição do procurador Lucas Furtado, investigou os contratos da Globalweb com o governo. E chegou à conclusão de que a empresa na realidade estava perdendo receitas com os contratos, principalmente nos aditivos (renovações). Em 28 de outubro o plenário do TCU avaliou o resultado da investigação da Sefti e concluiu que a denúncia publicada pela imprensa era “improcedente”.

O relator, ministro Augusto Nardes, foi claro em sua análise: para quem era acusada de ganhar vultosos contratos com o governo, através de tráfico de influência, as receitas auferidas pela Globalweb em contratos governamentais não condiziam com tal acusação.

“Os crescimentos dos dispêndios públicos nos anos de 2019 e 2020 com a empresa Globalweb foram menores do que os crescimentos dos anos anteriores (2015 a 2018); (ii) quando consideradas todas as empresas do grupo, houve decréscimo das despesas públicas com essas empresas nos anos de 2019 e 2020; (iii) não ficou demonstrado que os aditivos realizados nos anos de 2019 e 2020 chegaram ao valor de R$ 165 milhões”, esclareceu o relator. Praticamente ninguém da grande imprensa destacou isso no noticiário, com a mesma ênfase do espaço que deram quando foi para denunciar a empresa.

“Entretanto, até esse julgamento, a empresa sofreu as consequências devastadoras dos ataques realizados que representaram mais de R$ 158 milhões em prejuízos estimados. Estas perdas são frutos de suspensões de pagamentos devidos, impedimento de processos licitatórios vencidos e que tiveram a sua assinatura anulada (ex: Pregão no. 7003107279 Petrobras), não permissão de cadastramento de propostas para competição em licitações públicas, glosas em contratos vigentes, dentre outros”, declarou a direção da Globalweb em nota oficial, após a imprensa tomar conhecimento de que foi encaminhado ao presidente um ofício, no qual a empresa acusa órgãos do governo de promoverem cancelamentos de contratos sem fundamentação técnica. Apenas com base no noticiário de que foi vítima.

O conteúdo do Ofício recebido pela Presidência da República foi encaminhado ao Ministério da Economia para avaliação. Não se sabe ainda que resultados práticos poderão ocorrer em função das queixas da empresa.

Este site teve acesso ao “dossiê” encaminhado pela Globalweb. Pelo menos 90% dele são recortes de jornais onde a empresa mostra que foi vítima de uma campanha difamatória pela imprensa sem nenhuma fundamentação documentada.

Entretanto há uma parte interessante, na qual a Globalweb relata fatos ocorridos com diversos contratos cancelados e impedimentos em licitações, que chamam a atenção para o comportamento de determinados gestores públicos. E será publicado como um “segundo capítulo” por esse site.

*Aguardem.