A praga fake

Ontem, na Folha de S. Paulo, o criativo Nizan Guanaes publicou um artigo chamado “Onde o fake não tem vez”. Ele dá um conselho ótimo para o mercado.

“Comunique verdades, não slogans. Se as “fake news” proliferam com força e velocidade brutais em tantas áreas, na relação das marcas com seus públicos a verdade está se impondo.”

Nizan está certíssimo. No ambiente online ou na vida real, reputação é tudo. Mas – e tem sempre um – a praga fake está longe de se esgotar. Estudos comprovam que uma história falsa, porém impactante, é mais fácil de encontrar engajamento que uma verdade, às vezes inconveniente.

O brasileiro sentiu isso na pele com o tal kit gay, a mamadeira de p***** e outras tantas maluquices que fizeram sucesso nos grupos de zap nas últimas eleições. E a maioria das pessoas que compartilharam essas mentiras continuam bancando sua veracidade, inclusive autoridades públicas.

Pior, fake news é um negócio pra lá de rentável. Alimentam a receita de empresas de disparos de mensagem (ou anúncios) via WhatsApp, empresas/profissionais de conteúdo digital e profissionais da área de link builder. Uma matéria do jornal The Guardian recentemente apontou que a ONG Avaazencontrou mais de 550 páginas e grupos, assim como 328 perfis que partilhavam notícias falsas. Embora o Facebook as tenha apagado, a maioria dessas páginas foi visualizada cerca de 533 milhões de vezes, em apenas três meses.

No Brasil, o roteiro das notícias falsas rumo ao alcance de milhões começa no WhatsApp, como mostrou uma reportagem do The Intercept com pesquisadores brasileiros que monitoram o tema. Uma vez testadas nos grupos, partem para o Twitter. Onde se espalham seis vezes mais rápido que notícias verdadeiras.

E se você pensa que o problema é apenas na política, por causa dos exemplos que dei nos parágrafos anteriores, vou te dar um aviso: fake news mata. Só para lembrar, em 2014, uma dona de casa foi morta – espancada até à morte – em Guarujá (SP) por causa de um boato que circulou no Facebook dando conta que ela seria sequestradora de crianças. E nem havia casos de sequestro ou desaparecimento de crianças no lugar.

Temos também as fakes sobre doenças ou tratamentos milagrosos, com graves consequências. Uma história falsa que vem causando verdadeira epidemia de saúde é a falsa história de que as vacinas poderiam causar autismo e/ou sequelas graves. Nesse caso, levou à criação de movimentos anti-vacina que têm custado a vida de várias pessoas e o reaparecimento de doenças já erradicadas. E foi listado pela Organização Mundial de Saúde como uma das 10 maiores ameaças de 2019.

Mesmo com todos os (tímidos) esforços contra a praga fake, só será possível vencê-las com punição e indenizações às vítimas. Quando os principais acionistas e CEOs do Twitter, Facebook, Google e demais redes sentirem no bolso a justa compensação pelo mal que não evitaram, talvez as coisas mudem.