A difícil equação que Fabio Faria terá de resolver para governar em paz o Minicom

Definida a nomeação de Maximiliano Martinhão para a Secretaria de Radiodifusão, falta o ministro resolver o pepino na Secretaria de Telecomunicações. Fabio Faria e o Centrão teriam um nome pronto para a pasta: Jarbas Valente, ex-conselheiro da Anatel, ex-presidente da Telebras, quando Gilberto kassab era o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, no Governo Temer.

A escolha de Jarbas estaria sacramentada, porque ele tem o peso do seu currículo para contestar a ala ideológica do governo, por exemplo, na questão da escolha da futura infraestrutura do 5G no Brasil, impedindo que excluam a tecnologia chinesa no mercado brasileiro. Tudo, por enquanto ainda é mera especulação, mas os sinais indicam que a solução pode estar caminhando nessa direção.

Nos bastidores a situação do Ministério das Comunicações tem alguns capítulos interessantes de acompanhar. E a situação da Secretaria de Telecomunicações é uma delas. Vitor Menezes ainda responde pela área, mas extraoficialmente foi deslocado para a Secretaria-Executiva do Minicom.

O ministro Fabio Faria atendeu ao pedido da bancada evangélica, manteve Vitor na estrutura ministerial. Até em melhor posição (caso assuma, de fato, a Secretaria-Executiva). Porém a questão é mais complexa. A Secretaria-Executiva é o coração de um ministério. É preciso alguém que conheça a máquina administrativa, que saiba trabalhar de olho em toda a estrutura. Vitor foi para lá justamente pela competência que tem como gestor público.

Mas esbarrou num problemão político, que não comprou para si, mas se viu envolvido ao ter sido criado pelo próprio ministro. Fábio Faria não entende nada da máquina ministerial, assim como o atual titular da Secretaria-Executiva, Fábio Wejngartem. Precisam de alguém que conheça, mas não dispõem do instrumento para nomeá-lo. O atual titular, Fábio Wejngarten, não quer deixar o cargo.

Não tem nada de vaidade nessa discussão. Wejngarten não quer deixar o cargo de secretário-executivo (ou vice-ministro, se preferir) por uma questão muito simples: tinta na caneta.

Ao levar a estrutura da SECOM para dentro do Ministério das Comunicações, quem articulou essa ideia não pensou em aumentar a estrutura da pasta para abrigar pelo menos dois “cargos de natureza especiais”. Esses cargos são normalmente conferidos para secretários-executivos, pois eles substituem o titular da pasta: o ministro.

Tem poderes, por exemplo, para assinar todos os atos administrativos e são ordenadores de grandes despesas ministeriais, como se ministro fossem. Daí o apelido de “vice-ministro”.

Deixando a secretaria-executiva para assumir uma “secretaria especial”, como ocorre em outros ministérios, Wejngarten sabe que perderá parte dos poderes que tem hoje, principalmente o de gastar.

Wejngarten estaria sempre na incômoda posição de ter de pedir ao ministro Fábio Faria para executar uma despesa da SECOM, ou a Vitor Menezes, caso este assuma a Secretaria-Executiva. Sem essa autonomia, isso seria trágico para os planos e finanças da ala ideológica do Governo Bolsonaro.

Somado a esse problema, sabe-se que Fábio Faria tem interesse de reaproximar a imprensa do governo, o que significaria: reaproximar essa turma aos cofres da SECOM. O xará é contrário.

Wejngarten por questões ideológicas não aceita nem pensar em reaproximar o Governo Bolsonaro da “velha mídia”, sobretudo a TV Globo, que ele odeia.

Está criada a confusão. Ou manda Fabio Faria ou manda Fábio Wejngarten, no Ministério das Comunicações.

O mais provável é que a solução saia do Congresso Nacional, com a bancada ideológica de Bolsonaro retirando a SECOM do texto da MP que recriou o Ministério das Comunicações.

O problema é: a SECOM só foi para lá, porque o TCU colocou os olhos nos gastos publicitários da secretaria com o chamado “gabinete do ódio”, que irrigou com recursos o grupo que atua em apoio ao presidente Bolsonaro nas redes sociais. Como vão resolver esse problema?

*Não tenho a menor ideia, por enquanto.

(Foto do Estadão)