A arte de enrolar governos

Percival Henriques de Souza Neto até agora era conhecido como integrante do Comitê Gestor da Internet, quando foi eleito pela primeira vez em 2011 e de lá para cá nunca mais deixou esse maná. Detalhe: sempre eleito por entidades realmente ligadas e atuantes na Internet brasileira, como o Botafogo da Paraíba, por exemplo.

Físico e bacharel em Direito, Percival é o dono da Associação Nacional para Inclusão Digital – ANID – uma dessas entidades que vivem penduradas em governos, não importando qual – onde ele afirma que só “exerce a presidência.”

O que ninguém sabia é que Percival também é um amante das artes.

Sua última “criação” foi apresentada no dia 20 de março, numa solenidade que contou com a presença da direção da Telebras (ainda na Gestão Maximiliano Martinhão – canto esquerdo da foto), da Agência Espacial Brasileira (AEB), e até do ministro da Ciência, Tecnologia, etc e tal, Gilberto Kassab.

Trata-se de uma “escultura” do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC-1). Aquele trambolho espacial que custou aos cofres públicos R$ 2,8 bilhões, não conseguiu quem quisesse explorá-lo e acabou entregue para uma empresa norte-americana, num processo sem licitação que está sendo questionado na Justiça Federal.

Segundo o “artista” Percival, a escultura seria uma “representação literal da Terra, da abóboda celeste e do próprio satélite (…) um tributo à Matemática e, sobretudo, aos homens e mulheres escondidos atrás de cada equação que garantiu o suporte objetivo à manutenção em órbita e operação do SGDC”.

Recebeu todas as láureas possíveis do ministro Kassab e do presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, que até agora perderam três vezes na Justiça no processo movido por uma concorrente da norte-americana que abocanhou o satélite sem passar por licitação.

Mas isso é detalhe.

Para Gilberto Kassab, o importante é que o satélite irá proporcionar 80 mil antenas de acesso à Internet em todo o país ainda este ano. Só não explicou que isso dependerá da Justiça não impedir a execução desse estranho acordo com a empresa norte-americana, para exploração do trambolho espacial.

Mas temos plaquinhas para o artista Percival e isso, sim, é notícia:

Então você já sabe: quando olhar para o céu, lembre-se que um satélite de R$ 2,8 bilhões está zelando pela Internet dos menos favorecidos, através de programas de inclusão digital criados no extinto Ministério das Comunicações, terceirizados para a Telebras, que quarteirizou o serviço para uma empresa americana, num contrato “secreto”, questionado pela Justiça.

*Mas o que importa é que agora temos, digamos, uma linda escultura, de um proeminente “artista”, que sempre se inspirou olhando para governos.