Mudar a sede do Serpro é atestado de contaminação pelo vírus da burrice

Recentemente comentei aqui a ideia do Serpro de alugar um prédio novo e deixar a sua sede localizada em ponto estratégico da capital federal. Não quis ir além, mas deveria ter ido na avaliação desta ideia estapafúrdia.

Me ative ao básico: após uma rápida consulta em apenas uma das principais corretoras imobiliárias constatei o tamanho do encalhe de prédios em Brasília, sem a menor perspectiva de serem ocupados nos próximos meses. Um prejuízo ao dono que pagará duas vezes: 1 – pelo prédio que está alugando e 2 – pelo que deixou e terá de mantê-lo até que encontre algum comprador.

Se tais argumentos podem ser contestados, vamos então aos números. A Globo News hoje pela manhã levantou para essa discussão um porcentual interessante: 15% dos escritórios de São Paulo estão desocupados. Seja pelo home office que tem sido regra e não a exceção, durante a pandemia, ou seja por fim de contratos e o inquilino nesse momento prefere não renovar já que sua força de trabalho está em casa. Há ainda a hipótese de após a pandemia ser avaliado em diversos setores a desnecessidade desses escritórios.

Eu mesmo entrevistei o CEO da BRQ, Benjamin Quadros, que disse que a sua empresa tende a ficar em casa, desativando escritórios e reduzindo com isso alguns custos operacionais que poderão ser revertidos para outros fins.

E o Serpro?

Quer um prédio novo, moderno, eficiente em energia e outros parangolés. Ao mesmo tempo que quer aglomerar a sua mão de obra e correr riscos numa pandemia que não se tem mais a menor ideia de quando a curva brasileira começará a apresentar queda.

Qual o custo disso para o contribuinte? Que ganhos terá uma estatal que parte do governo pensa em vender, outra parte vende aos pedaços e uma terceira quer lucrar com ela até o osso?

Ao invés de aprender com as lições que o mercado privado vem dando, de graça, a diretoria do Serpro prefere errar. É fácil, porque o risco numa estatal tem a devida cobertura do Tesouro Nacional lá na frente.

Tenho até visto notas de assessorias de imprensa tentando vender a ideia de que o mercado imobiliário não irá sofrer abalos com essa pandemia e mesmo depois dela. Puro exercício de futurologia, para não dizer cascata.

Se a diretoria do Serpro tiver um mínimo de espírito público, ou bom senso, deixa esse projeto esquecido numa gaveta. Caso contrário, mudem-se e depois sejam responsabilizados administrativamente por manterem um prédio fantasma, gastar dinheiro com uma bobagem, além de contaminar sua força de trabalho.

Não é hora de enriquecer o bolso de algum empresário que esteja doido para ter dinheiro público em caixa para se salvar de um mico que construiu na capital federal.