A montanha pariu um rato

Ontem a “cúpula tecnológica” do governo se trancou horas dentro de uma sala no Ministério da Economia para discutir os problemas do INSS, greve da Dataprev, privatização das estatais de TI, o sexo dos anjos e, provavelmente, o comportamento dos participantes do BBB.

E ao final correram para a imprensa, que lhes convém, para anunciar uma grande medida: vão absorver 193 funcionários “desligados” da Dataprev, que não podem estar “desligados” porque estão em greve.

Uau! Parem as máquinas! Temos a solução para a crise!

Essa medida é o que os políticos pernambucanos que conheci ao longo da carreira costumavam chamar de “a montanha pariu um rato”.

O único efeito prático dela é esvaziar a greve nacional da Dataprev que está mordendo o calcanhar do governo e deixando margens para previsões do tamanho do caos que isso poderá ocorrer para ele, se amanhã o Serpro enveredar pela mesma trilha.

Se essa genial medida fosse a solução, ela teria sido construída lá atrás, justamente para evitar a greve. E não depois que ela foi deflagrada e deixou o governo com cara de bunda. Sobretudo essa diretoria da Dataprev, que numa empresa privada já teria sido demitida sumariamente por incompetência administrativa.

Nesta altura do campeonato, tal medida tem apenas o efeito psicológico de desmotivar os funcionários da Dataprev a continuarem em greve, enquanto esperam que a Justiça do Trabalho decida qual a melhor saída para o processo.

Porque o governo não quer que o movimento chegue nas barras de um tribunal trabalhista? Porque sabe que lá poderá levar um tranco pesado de um juiz, por ter cometido atos como demitir trabalhadores com contratos de trabalho suspensos pela greve. Feriram a lei. Coisas do gênero criadas pela ineficiente e amadora diretoria da estatal.

E se essa decisão de absorver uma pequena parte dos funcionários fosse para valer, o diretor de Administração da empresa não teria corrido aos sindicatos, na calada da noite, para tentar fechar esse acordo, sem passar pelo crivo do Ministério Público do Trabalho ou um juiz. Como os sindicalistas não são bobos, não aceitaram a proposta e só acatarão o que a Justiça do Trabalho decidir.

*Agora é que eu quero ver se os funcionários em greve vão seguir dispostos a brigar na Justiça pelos seus direitos, ou se vão achar a proposta maravilhosa e desfazer o movimento que criaram.