MCTIC assume projeto de banda larga, chama Exército e some com empresa ligada à RNP

Coisas estranhas ocorreram nas últimas horas dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovação e Comunicações. Uma nova reunião, que não fazia parte da agenda semanal do diretor geral da RNP, Nelson Simões, deverá ocorrer logo mais às 17 horas na Secretaria-Executiva do MCTIC. A pauta prevista para o encontro será discutir o programa de banda larga na Amazônia e parte do Nordeste.

Só que desta vez a reunião terá a coordenação direta do ministério e não mais da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, como vinha ocorrendo, em três outras ocasiões desde março deste ano. Alguns personagens centrais da trama também mudaram. Julio Semeghini, o atual secretário-executivo, ao que parece resolveu assumir o controle do projeto.

A novidade agora é que o ministério está chamando o Exército Brasileiro para participar da reunião e não mais a empresa Junto Telecom, que esteve presente em todas as reuniões anteriores, ocorridas a partir de março. Essa empresa privada, parceira comercial da RNP, estava numa posição privilegiada dentro do mercado.

Como convidada da RNP ganhava espaço para discutir um projeto governamental do qual tem notório interesse comercial, em detrimento do Exército, que foi o primeiro executor do projeto, denominado “Amazônia Conectada”.

Um fato raro e questionável do ponto de vista ético, pois todo o mercado de infraestrutura de rede não gozava desse mesmo privilégio que a Junto Telecom. Mas não será apenas a empresa que sumiu da agenda de reunião. Também não estará presente o diretor de Engenharia e Operações da RNP, Eduardo Cesar Grizendi, que além do cargo é sócio administrador de uma consultoria privada.

Atribui-se a sua ausência no encontro o fato de Grizendi ser desafeto do diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Industrial do Ministério da Defesa (Exército), General de Divisão Decílio de Medeiros Sales. Os dois se desentenderam ainda na época da execução do projeto Amazônia Conectada, que naufragou por falta de verbas.

Grizendi teria tentado interferir no projeto, que contava com o apoio da RNP, colocando empresas privadas para a execução de serviços. O general não gostou por dse tratar de um projeto no qual o Exército teria o controle e a partir daí exigiu que o diretor da RNP não estivesse presente em futuras reuniões para tratar de banda larga. O MCTIC, ao que parece, agora cumpriu a exigência, pois o diretor de operações da RNP está fora da agenda de logo mais no ministério.

Outro personagem interessante que acaba de entrar para o projeto, pois até então não vinha participando dos encontros anteriores da cúpula das Comunicações do MCTIC, para tratar de banda larga na Amazônia, é o assessor especial Maximiliano Martinhão. No encontro de logo mais Max, como é conhecido, pode acabar assumindo a coordenação do projeto à mando do secretário-executivo Julio Semeghini, que foi o promotor desse encontro não previsto em agendas anteriores.

Max já foi secretário de Telecomunicações até o Governo Temer e terminou jogado numa assessoria especial do ministro Marcos Pontes, como prêmio de consolação. Porém, foi um dos coordenadores do projeto Amazônia Conectada desenvolvido em parceria com o Exército Brasileiro, portanto sabe como executá-lo sem a necessidade da “opinião” de empresas privadas. No mesmo encontro estará, como “convidado” o atual secretário de Telecomunicações, Vitor Elísio, o mesmo que chegou a dizer que bastariam R$ 300 milhões para a execução do projeto, valor que considerou “barato” numa palestra proferida num seminário da Brasscom.

O ministério pode até alegar que nunca houve problemas internos na condução desse projeto e que o Exército está prestigiado desde o início, promovendo logo mais a famosa fotografia promocional em seu site. Não estava e a verdade é que depois de uma longa coordenação duvidosa da RNP, agora é a secretaria-executiva do MCTIC quem trata do assunto. Bom para o mercado, que estava escanteado por uma “parceira privada” da RNP, e bom para o país que novamente ganha os militares na condução de um projeto que é sério e necessário, para tirar uma região da exclusão e da transformação digital.