Quando não é a capacidade que está em discussão

Ontem o Twitter oficial do astronauta Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência, Tecnologia etc e tal no Governo Bolsonaro, postou uma mensagem em que se supõe que seja de autoria dele, pois não é assinado.

Nela Pontes compara currículos, para justificar sua escolha para o MCTIC por Bolsonaro. E comete o que na política se chamaria de “ingratidão”.

Sem citar nome, atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mesmo presidente que o projetou na vida pública em 2006, quando foi levado ao espaço em ação da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Primeiro Pontes comentou, de forma grosseira, que o ex-ministro da Educação e candidato derrotado à presidente da República, Fernando Haddad, foi escolhido para o ministério e nem sabia pronunciar a palavra “cabeçalho”.

De fato Haddad – que é Advogado aprovado no exame da OAB, Doutor em filosofia e tem Mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), cometeu um deslize numa entrevista ao dizer “cabeçário”, quando a palavra correta seria “cabeçalho”.

Não satisfeito, em seguida atacou Lula, mas sem citá-lo diretamente: “Ou a quase escolha de um meliante em vias de encarceramento para a Casa Civil”.

O astronauta-ministro ainda aproveitou o seu momento de glória com a indicação para o MCTIC, para também comentar sobre a escolha de um “bacharel em Ciências Econômicas que não sabia executar operações matemáticas básicas para a direção da Petrobras”. Da mesma forma, não explicou sobre quem ele se referia.

Caro astronauta, ministro, ou seja lá o que for doravante. Não está em discussão e acho que nem nuca esteve em discussão, se o senhor tem ou não currículo para o cargo – que é de confiança e aí não cabe discutir critério técnico – que irá assumir no Governo Bolsonaro.

Só ficou feio e pode ser considerado antiético da sua parte, cuspir num prato que comeu e que foi o trampolim para projetá-lo na vida pública, ao ponto de hoje levá-lo a ser indicado para um cargo de ministro.

Certamente o senhor chegou aonde chegou por méritos e não necessariamente pela propaganda que cercava o seu nome.

O senhor do ponto de vista técnico tem os requisitos necessários para ser ministro, igualmente Haddad teve para ser o da Educação. Deslizes são detalhes, acontecem, principalmente quando se está na frente da TV. E o senhor estará em breve.

Portanto, não precisa justificar a sua presença no Governo Bolsonaro. A sua presença já sabemos. Resta saber como a sua presença será julgada no futuro.

Por enquanto, essa presença deixa transparecer apenas que foi escolhido um excelente quadro técnico, mas que se mostra uma péssima pessoa, que não sabe ser agradecida com os que passaram e o ajudaram ao longo da sua brilhante carreira.

Para não me alongar mais, digo que o senhor parece que aplicou a célebre frase de Charles Maurice de Talleyrand-Périgord : “Na política, a traição é uma simples questão de datas”.

*Caso não saiba, Talleyrand foi um conselheiro político tão bom quanto Maquiavel. Porque como não tinha escrúpulos serviu aos Bourbons e até a Napoleão Bonaparte.