Relator do 5G pode agradar Bolsonaro e gerar um terremoto na economia brasileira

Neste fim de semana saiu uma nota na coluna do jornalista Lauro Jardim que deixou em pânico o setor de Telecomunicações. Informava que, em reunião a portas fechadas com o presidente Jair Bolsonaro, no dia 24 de novembro, da qual participaram a cúpula da Anatel e o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o novo conselheiro e relator do edital do leilão do 5G, Carlos Baigorri, minimizou os efeitos negativos, caso o Brasil exclua a presença da Huawei no mercado de infraestrutura de Telecomunicações.

Ele teria dito que o setor não terá prejuízos se a fabricante chinesa for impedida de ter seus equipamentos de infraestrutura adquiridos pelas empresas de telefonia para montagem da nova rede móvel de quinta geração.

Era tudo o que o presidente Bolsonaro e o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Heleno, queriam ouvir para reforçarem o discurso da ala ideológica do seu governo, que não quer, por razões de “Segurança Nacional”, a presença chinesa na infraestrutura de telecomunicações de 5G. General Heleno também participou desta reunião.

Geopolítica

O governo Bolsonaro tem se alinhado com os desejos dos norte-americanos na intenção de banir a presença chinesa no Brasil, ao passo que abre para a indústria americana e europeia – com equipamentos mais caros – a chance de faturar no mercado brasileiro.

Uma simples informação de uma nota de jornal não seria levada tão à sério pelas empresas, não fosse o fato de que, neste governo, não faltaram até agora manifestações de autoridades – algumas até em situações vexatórias para elas – de que “quem manda é Jair Bolsonaro”.

O próprio ministro das Comunicações, Fábio Faria, em inúmeras entrevistas, não foi capaz em nenhum momento de ter a sua opinião sobre a implantação do 5G no Brasil. Sempre que indagado sobre o tema recorre ao mantra: “quem vai decidir isso é o presidente”.

Nenhum outro ministro das Comunicações que tenha antecedido Fabio Faria deixou de ouvir a indústria e ter formado suas convicções sobre o mercado. Nem tampouco tenha deixado com o presidente da República a escolha de uma nova tecnologia móvel. A decisão sempre partiu deles, após receberem um parecer prévio e técnico do ministério, baseada em decisão tomada pela Anatel. Faria por vassalagem explícita a Bolsonaro vem subvertendo a ordem. Agora o presidente – que sempre disse que não entende de Economia – determina o que quer e o ministério e a Anatel que tratem de criar uma realidade econômica paralela para acomodar o assunto dentro da perspectiva do “chefe”.

Impacto no setor

Se Baigorri resolver agradar ao presidente e excluir a chinesa Huawei, ele já sabe o impacto econômico dessa decisão na implantação da infraestrutura 5G no Brasil. Pois as empresas não terão apenas que construir uma rede nova com equipamentos mais caros de outros fabricantes (estimado um acréscimo de 40% nos preços) mas, também, terão de refazer parte (em alguns casos o todo), das atuais redes 3G e 4G, que utilizam equipamentos da fabricante chinesa.

Em alguns casos, como o da rede da Nextel, adquirida pela Claro no Brasil, ou da Sercomtel essa mudança será total. Nos duas operadoras toda a atual rede de comunicações terá que ser trocada, porque usam equipamentos da Huawei.

Nas demais o impacto também será grande. Como no caso da Vivo, que detém 65% da sua rede com equipamentos da fabricante de infraestrutura chinesa. A rede Claro tem 55% de equipamentos Huawei, a Oi Móvel 60%, a Algar 50%. A menos prejudicada seria a TIM, que detém hoje em torno de 45% da sua rede com equipamentos da fabricante chinesa.

Isso significa que, as teles vão optar em reduzir o tamanho ou a abrangência do 5G no Brasil, provavelmente limitando essa nova rede às grandes capitais, porque primeiro terá de gastar com a troca de equipamentos chineses nas redes 3G e 4G.

Baigorri sabe disso, mas parece que tem alguma solução mágica que o mercado desconheça. Procurado por esse site, Baigorri não confirmou e nem desmentiu a notícia. Nem tampouco falou se já tem alguma ideia que norteará a sua decisão final no edital do leilão do 5G. Disse apenas que não comentaria o assunto.

Impacto econômico

A decisão do novo conselheiro e relator do 5G, se for realmente pela exclusão da Huawei da infraestrutura brasileira de comunicações, poderá afetar outros setores econômicos, pois a China tem se mostrado o principal parceiro comercial do Brasil.

Dados do Icomex – Indicador de Comércio Exterior, divulgados em novembro, mostram que de janeiro a outubro deste ano, o saldo da balança comercial foi de US$ 34,9 bilhões. Deste total, o saldo do comércio com a China foi de US$ 21,4 bilhões. Isso deixa claro que excluir a China do mercado de infraestrutura 5G brasileiro poderá levar o país a ter de enfrentar futuramente retaliações comerciais pesadas da parte dos chineses, sobretudo no agronegócio brasileiro.

O presidente Bolsonaro tem dito que os chineses precisam dos produtos agrícolas brasileiros, o que não deixa de ser verdade. Porém, o Brasil não é o único produtor interessado em vender para o China no mundo.

Não se sabe, por exemplo, como a política comercial do presidente eleito norte-americano, Joe Biden, irá reagir, caso os chineses estejam buscando um substituto para os produtos agrícolas brasileiros. A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode arrefecer na administração Biden, com políticas compensatórias no “toma-lá-dá-cá”. E o Brasil poderá ser o grande sacrificado num eventual acordo entre as duas potências.

*Foto: TeleSíntese.