NXP sai do Brasil, leva projetos para outros países e desemprega cientistas

Agora a discussão não está mais restrita a ideia de o Brasil desmontar a sua nascente indústria de semicondutores com a extinção da Ceitec/SA. Vamos partir para uma discussão global. A holandesa NXP, uma das 10 maiores empresas de semicondutores do mundo, que estava no Brasil desde 1997, acaba de anunciar (ainda não publicamente) que está fechando o seu Centro de Projetos em Campinas (SP).

Traduzindo a mensagem, significa que em torno de 100 projetistas brasileiros estão desempregados. Gente, cuja qualificação técnica não se encontra ali na esquina, passará a buscar emprego em outras áreas como forma de garantir a sobrevivência financeira.

É impressionante como o Brasil começa um projeto e depois o joga no lixo. Seja por viés ideológico, ou interesses comerciais privados da indústria estrangeira, que não quer ver o Brasil desenvolvedor de tecnologias mas, sim, comprador delas. Ou ainda, pela burrice de um ministro astronauta, que está mais preocupado com os efeitos de um vermífugo no combate ao Coronavírus do que com a produção industrial brasileira.

É de se perguntar para Marcos Pontes para quê serve o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Que depois de três governos decidiu lavar as mãos para o desmonte do setor, só para não brigar com o Ministério da Economia.

Não foi sempre assim. Um estudo elaborado por especialistas do BNDES, MCTI e do extinto Ministério do Desenvolvimento, Indústria e do Comercio Exterior (MDIC), mostrava a situação brasileira, suas necessidades e ainda apontava caminhos para o país se inserir no mercado global de semicondutores. O estudo é de 2015 e inclusive mostrava o estágio da Ceitec, suas dificuldades operacionais e quais as medidas precisariam ser tomadas para ela crescer. Também citava outras empresas do setor.

Ele foi elaborado pelos especialistas Ricardo Rivera (gerente setorial e engenheira do Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação da Área Industrial do BNDES), Ingrid Teixeira (BNDES), Carlos Azen (BNDES), Henrique Miguel (MCTI) e José Ricardo Sales (MDIC, hoje no Ministério da Economia).

Mercado Global

Para se ter uma ideia da contramão em que estamos caminhando, em setembro de 2020, o Boston Consulting Group apresentou um relatório, no qual ele apontava a estimativa de crescimento da indústria de semicondutores na década de 2020/30. De acordo com a consultoria, essa estimativa seria de 50%.

Somente o governo americano deverá investir de US$ 20 bilhões a US$ 50bilhões para reverter o declínio na fabricação de semicondutores pelos EUA nos últimos 30 anos. Esses investimentos, segundo o Boston significariam a possibilidade de um aumento da participação americana no mercado de semicondutores entre 14% a 24% , com geração de 70 mil empregos diretos de alta qualificação.

Após assumir o governo dos EUA este mês, o presidente Joe Biden já apresentou a agenda 2 para a área de semicondutores. Ela traz uma perspectiva de investimentos da ordem de US$ 300 bilhões, sendo deste total, US$50 bilhões seriam canalizados para investimentos fabris.

Enquanto isso, no Brasil com a chegada do governo Bolsonaro e a gestão Marcos Pontes no MCTI, em 2019, foi encerrado o programa de formação de projetistas de circuitos integrados (até sugerido no estudo dos especialistas citados acima). Um programa que necessitava de um investimento anual de cerca de R$ 2,5 milhões – menos que os R$ 15 milhões gastos com latas de leite condensado – que formou centenas de pessoas em mais de 10 anos de existência.

Não satisfeitos, ainda extinguiram a Ceitec, única empresa com centro de projetos e fábrica de circuitos integrados da América Latina, cuja morte foi decretada em dezembro de 2020 pelo presidente. Jogaram fora investimentos feitos em torno de R$ 1bilhão ao longo de 11 anos na estatal.

*Quem pagará essa conta no futuro?