Dataprev/Unisys: novo capítulo para uma novela sem previsão de fim

O Diário Oficial da União traz hoje (09) a renovação por mais 36 meses de um contrato entre a Dataprev e a Unisys de valor pequeno, porém cheio de histórias para serem contadas. A estatal renovou os serviços de suporte e atualização de software no ambiente mainframe ao custo de R$ 1.9 milhão.

O que sinaliza oficialmente que, nos próximos 36 meses, há uma hipótese real de que a Dataprev continuará a não cumprir uma determinação do Ministério Público Federal, de migrar para uma outra plataforma os sistemas que rodam no mainframe Unisys no data center do Rio de Janeiro. Uma determinação ignorada pela estatal que já dura em torno de 15 anos.

Algumas bases de dados como o CNIS (Informações Sociais) e o Prisma (Administração interna do INSS), que rodam nesse mainframe já foram migradas. Mas o SABI (sistema de pagamentos de benefícios) continua no ambiente Unisys. Extraoficialmente existem informações circulando de que fraudes na Previdência possivelmente ocorram por conta de brechas na segurança desse sistema. Que, por exemplo, não faz o registro dos logs de consultas, apenas os de escrituração.

Significa que qualquer um dentro ou fora da Dataprev com senha de acesso ao mainframe pode realizar consultas às informações no SABI que não será identificado, não importando o tempo que leve dentro do sistema colhendo essas informações. O registro somente será feito se quem estiver nele alterar alguma informação que esteja armazenada no banco de dados. Isso não é um procedimento normal.

Na Receita Federal, por exemplo, é sabido que bastou alguém acessar um sistema que será imediatamente identificado e tudo o que fizer lá dentro, mesmo que seja uma rápida “olhadinha” nas informações de algum contribuinte, será registrado.

Pedalada contratual

Essa renovação agora de serviços com a Unisys por mais 36 meses ocorre num momento de mudanças administrativas que culminaram com a queda do diretor André Côrte, que ocupava duas diretorias: Desenvolvimento e Serviço e Relacionamento e Negócio.

Para os dois cargos foi nomeado o funcionário Gilmar Queiroz, que era o principal responsável pela gestão do mainframe Unisys no datacenter do Rio de Janeiro. Gilmar já aproveitou para nomear como superintendente a funcionária Simone Hauch, que sempre foi assessora direta

É curioso o fato, pois Gilmar é a memória viva dos motivos da Dataprev nunca ter conseguido se libertar da dependência tecnológica da Unisys em 15 anos de tentativas. Com certeza ele teria muito a explicar sobre o problema.

Independentemente disso, ficou para Gilmar administrar outro pepino que vem ocorrendo na Dataprev desde janeiro. O SABI, que não consegue ser migrado do mainframe Unisys para uma plataforma baixa, está rodando sem previsão contratual com o maior cliente e controlador da Dataprev: o INSS desde o dia 16 de janeiro deste ano.

No dia 16 de janeiro deste ano a então presidente da Dataprev, Christiane Edington – que foi demitida do cargo em fevereiro, mas voltou em junho para presidir o Conselho de Administração da estatal – assinou um 8º Aditivo ao contrato que mantinha com o INSS suprimindo alguns serviços. Entre eles o desligamento do SABI:

A previsão contida no 8º Aditivo – que também foi corroborada pelo então diretor André Côrte – era de que até 16 de fevereiro ocorresse o desligamento deste sistema, sem nenhuma previsão do que ficaria no lugar. Como desligar um sistema que paga benefícios a milhões de aposentados e pensionistas? Somente Christiane Edington ou o ex-diretor André Côrte poderiam esclarecer.

Obviamente isso não ocorreu, porque a Dataprev mantém o serviço funcionando apesar de não ter mais pagamento e nem previsão orçamentária pela prestação do mesmo. Isso é ou não uma pedalada contratual?

O curioso nesta decisão em conjunto com o INSS, que seria o maior prejudicado se o SABI fosse desligado, é que na época a diretoria da Dataprev apoiou a decisão com base num parecer dado pela área técnica comandada por Gilmar Queiroz, o agora diretor nas diretorias de Desenvolvimento e Serviço e de Relacionamento e Negócio.

O que será feito futuramente ninguém sabe, pois já houve um nono aditivo e nele não consta nenhuma renovação de contrato entre a Dataprev e o INSS para restabelecer tais serviços. No entanto a Unisys continua numa boa determinando o destino tecnológico da estatal.