“Metade equívoco, metade invenção”

Foi como reagiu ontem no Twitter o ministro das Comunicações @Paulo_Bernardo, às reportagens publicadas pelo portal Convergência Digital, além de outros veículos especializados no setor de TI e Telecomunicações, sobre a já encomendada exoneração de Rogério Santanna da presidência da Telebrás e a ida de Cezar Alvarez para o cargo na estatal.

Manobra que transforma definitivamente o PNBL no já chamado: “PNBTeles”.

O ministro tem todo o direito de responder e negar qualquer informação, assim como tudo o que saiu ontem na imprensa especializada pode conter uma série de “equívocos”. Jornalismo não é ciência exata, está sujeita à tudo. Inclusive a erros.

Mas “Invenção” como ele mesmo afirmou no Twitter, isso não.

Veículos especializados de TI e Telecom – ou de qualquer outro setor econômico – diferem da imprensa convencional, porque seu público alvo é altamente instruído. Não toleraria e nem perdoaria qualquer leviandade cometida, seja por conta de qualquer interesse político ou econômico. Portanto, a sobrevivência desses veículos está intimamente ligada à credibilidade.  Se perdem, não recuperam mais perante o seu público leitor.

Mas o ministro tem o direito de achar o que quiser. Entretanto, se a imprensa ‘inventou’ algo comprometedor que esteja ocorrendo nos porões do Ministério das Comunicações, então Paulo Bernardo tem de vir à público hoje e desmentir categoricamente todos os veículos que deram a informação.

Tem de prestar contas à sociedade em geral e não apenas à “militância 2.0”, sobre todos os investimentos (dinheiro do contribuinte) feitos para o governo dispor de uma rede nacional de banda larga, que agora supostamente pretende limitá-la ao papel de mero fornecedor de rede no atacado para empresas privadas, que em última instância irão transformar um projeto social num bom negócio: Venda casada de Internet com telefone e TV por assinatura.

Tem de informar se o governo abandonou ou não os objetivos preceituados no inciso IV  do Artigo 4º do Decreto nº 7.175/2010 – que definiu pelo menos uma das competências da Telebrás diante do Plano Nacional de Banda Larga e que não era somente a oferta de infraestrutura de rede no atacado:

IV – prestar serviço de conexão à Internet em banda larga para usuários finais, apenas e tão somente em localidades onde inexista oferta adequada daqueles serviços.

Quero deixar claro que não sou contra as empresas de telefonia serem parceiras do governo no PNBL. Aplaudi a decisão da GVT e TIM/Intelig, de fazerem um acordo com a Telebrás no sentido de compartilharem redes e evitar gastos desnecessários para prestar o mesmo serviço numa mesma localidade. Se as empresas tivessem um mínimo de bom senso, lá atrás teriam fechado esse acordo com o governo, no qual um grande backbone federal lhes possibilitaria chegar aonde sempre disseram que era muito caro chegar: aos mais pobres.

Ao contrário, o que fizeram foi resistir ao PNBL. Criaram um plano paralelo – com apoio do ex-ministro Hélio Costa – que custaria R$ 75 bilhões ao país. Cujo único objetivo evidente, na época, seria o de impedir o governo da sua missão social de integrar todo o Brasil com Internet. Em suma, não queriam que governo comprovasse que existe um monopólio privado no Brasil, onde por falta de concorrência o preço da Internet não cai.

A sua versão de PNBL ministro, está bem longe dos objetivos iniciais do governo. Resta saber por que o senhor ou o governo mudaram o discurso.

Caro ministro @Paulo_Bernardo, justificar os seus atos pelo Twitter à “militância 2.0” é lícito e louvável,  mas não passa de um privilégio que o senhor concede a apenas uma pequena parcela da população brasileira: A bem vestida e nutrida.

Só não diga que os seus atos expostos pela imprensa especializada foram  “invenções”, porque qualquer pessoa esclarecida e com um mínimo de bom senso sabe que o seu discurso difere daquilo que se almejou no PNBL original.

Muito menos reflete o pensamento de um ex-presidente que sempre pensou no país do ponto de vista dos mais pobres.

* E não usava Twitter para conversar com o povo brasileiro.