Outro exemplo de ‘sabotagem’ contra o Serpro

Ontem o presidente da Fenadados, Carlos Alberto Valadares (Gandola), falou na rádio CBN, que parte do problema que ocorre hoje  no Serpro-SP seria a inadimplência de órgãos federais com a estatal, que ficaria impedida de fazer todos os investimentos que necessita  para manter um nível adequado de serviços ao cidadão. Discordo em parte sobre essa avaliação, pois sustento que o maior problema vem da sabotagem política/financeira, de gente que quis lucrar dentro da empresa e se manter no poder.

Mas resolvi prestar a atenção ao que ele disse, porque ontem também estava estampada no jornal O Globo uma curiosa declaração do supervisor do Programa do Imposto de Renda, Joaquim Adir, da Receita Federal, informando que o Leão estudaria a contratação de serviços terceirizados, para suprir a lacuna deixada pelo Serpro.

Pois bem, temos duas informações conflitantes. Uma diz que ninguém paga e quer o serviço funcionando com qualidade. Já a outra diz que quer o serviço funcionando e deixa implícito que vem pagando e não está recebendo, o que exigiria ir contratar terceiros para resolver a questão.

Decidi tirar à limpo as duas informações, para ver quem estaria enganando quem.

Não é difícil. Tomemos por base o que diz o balanço financeiro do Serpro de 2009. A estatal encerrou o exercício informando que teria em faturas a receber R$ 550,9 milhões. E foi obrigada a provisionar como ” Créditos de Liquidação Duvidosa” R$ 30.246.179,62. Ou seja, tem gente que não pagaria dentro do governo, nem a pau.

O balanço de 2010 não foi divulgado no site do Serpro. Mas tenho dados bastante significativos. Essa inadimplência pode ter chegado no ano passado aos três dígitos. Ou seja: Órgãos da Administração Federal deixaram de pagar ao Serpro R$ 280 milhões.

Para 2011 a estatal vive uma situação ainda mais singular. Se nem sabe quando receberá aquilo que já devem por serviços que prestou no ano passado, o que a estatal poderá fazer, neste ano, quando nem bem completou o primeiro bimestre e já tem uma inadimplência de R$ 206 milhões? Colocar o próprio governo na Serasa? No Cadim?

Aí, caro leitor, você me pergunta: Mas o que tem o tal técnico da Receita Federal com isso?

Resposta: Cerca de 60% dessa dívida vem da Receita Federal. O restante divide-se com o Denatran (R$ 35 milhões que o presidente da Fenadados citou), além de mais R$ 20 milhões do DNIT. E por aí vai, no resto do governo.

* Portanto, o senhor Joaquim Adir da Receita Federal deveria primeiro pagar o que deve ao Serpro. Somente depois ele teria direito de exigir qualidade, ou ir buscá-la na iniciativa privada.