Serpro gasta R$ 12,3 milhões para PwC criar discurso em favor da venda da empresa

O Serpro divulgou no Diário Oficial da União a assinatura de um contrato com a PricewaterhouseCooper (PwC) no valor de R$ 12.317.301,14. Um acordo comercial que tem indícios claros de estar fabricando suspeita de sabotagem na empresa, para vender imagem à opinião pública de que ela é corrupta e desnecessária e sua direção tem pouca confiança e credibilidade na área de Desenvolvimento.

O objeto oficial do contrato, com dispensa de licitação, é “avaliação de processos” em 10 sistemas da estatal, considerando aspectos de “arquitetura, tecnologia, ferramentas e segurança da informação”. A vigência do contrato que começou ontem (04/02) e foi assinada na mesma data, tem o término previsto para o dia 22 de maio deste ano.

A decisão do Serpro de contratar a PwC para realizar essa auditoria – sem licitação – ocorreu após um encontro realizado no dia 22 de janeiro com a da consultoria internacional. Da qual esteve presente, inclusive, o Diretor Jurídico e de Governança e Gestão, Gileno Gurjão Barreto, um velho conhecido da PwC, pois já trabalhou nessa consultoria, tendo saído de lá em 2010.

Sabotagem

A dispensa da licitação foi motivada pelo Artigo 29, inciso XV da Lei das Estatais (nº 13.303/16) que permite a não realização de concorrência pública quando a compra se tratar de uma “emergência”:

“XV – … caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contado da ocorrência da emergência, vedada a prorrogação dos respectivos contratos”…

A direção do Serpro parece estar seguindo um padrão do Governo Bolsonaro, em que toda vez que ocorre algum fato de repercussão negativa nas suas ações, parte para a opinião pública para denunciar a possibilidade de sabotagem.

E a estatal sofreu, de fato, um abalo em sua imagem recentemente, quando foi detectado um rombo de R$ 4 bilhões nas contas das exportações, através de um erro no Siscomex. Este site chegou a publicar reportagem, nunca contestada pela empresa oficialmente, que o erro no sistema talvez pudesse ter sido evitado, se a direção da área de Desenvolvimento, escolhida pelo próprio Caio, não tivesse desmantelado o seu controle de qualidade.

Mesmo que não tenha elementos plausíveis para sustentar essa tese agora, caso a auditoria nada encontre nessa linha de pensamento, fica evidente que a direção do Serpro está se precavendo contra ações desse gênero no futuro, quando iniciar seu processo de desmonte de regionais, demissão de funcionários e preparação para a venda da empresa, no todo ou em parte do seu capital.

Cria, inclusive, um ambiente favorável ao secretário das Privatizações, Salim Mattar, de continuar propagando na imprensa a tese de que estatal “é ineficiente e corrupta”. Principalmente quando ele tiver de prestar esclarecimentos no Congresso Nacional, pois a casa legislativa irá se debruçar sobre os pedidos de privatizações do governo, autorizando ou não.

A direção do Serpro, ao que parece, não medirá esforços nessa estratégia. Nem que para isso sacrifique a credibilidade da sua área de Desenvolvimento. Isso está ficando evidente, pelo fato de que no dia 22 de janeiro, data do encontro com a direção da PWC, apenas um dos diretores do Serpro não estava presente para dar a sua opinião sobre o assunto: o diretor de Desenvolvimento, Ricardo Jucá.

A direção do Serpro pode até contestar essa versão, alegando que Jucá estava de férias, o que seria compreensível. Entretanto teria de ser muito convincente ao explicar por que não solicitou a presença de um subalterno de Jucá, dada a importância da reunião e os objetivos desse contrato terem reflexos diretos no dia a dia da área de Desenvolvimento.