Direção da Dataprev trata funcionários como bandidos ou potenciais sabotadores

Uma série de medidas, que podem configurar assédio moral, estão sendo adotadas na Dataprev, inclusive com o apoio de “soluções” da Microsoft. As medidas deixam transparecer que a direção da empresa desconfia de todos os funcionários, que em 45 anos de estatal nunca foram acusados de serem sabotadores ou vazado informações sigilosas da Previdência.

Por ordem da presidente, Christiane Edington, as “medidas de segurança” ocorrem em paralelo a um processo de tentativa de privatização da estatal (a anuência legislativa ainda não ocorreu). Na qual decisões administrativas como, enxugamento de “custos”, já levaram ao fechamento de 20 escritórios regionais, que deixaram 493 empregados ( 15% do quadro da Dataprev) sem ter o que fazer em diversos Estados.

O que não explica, por exemplo, foi a decisão de retirar as senhas de acesso aos sistemas da empresa, daqueles funcionários que agora estão no limbo administrativo após o fechamento dos escritórios regionais. Justo num momento em que o governo até se vê obrigado a convocar o Exército para ajudar o INSS a acabar com a crise das filas no cadastramento de aposentadorias.

Outra medida que estaria sinalizando da parte da direção de que os funcionários da Dataprev seriam “desonestos”, foi a imediata retirada das portas USB de todos os computadores da empresa. Com isso a direção espera evitar “vazamentos de informações”, que nunca foram registrados dentro da empresa em seus 45 anos de vida. Por conta dessa medida, os funcionários sequer estão podendo salvar os seus arquivos pessoais. Tudo o que estiver “guardado” nos computadores da Dataprev (fotos de família, vídeos, arquivos pessoais), agora são de propriedade da empresa.

Além disso, segundo os funcionários da empresa, estaria ocorrendo a instalação da solução “Azure Active Directory”, da Microsoft, num contrato que supostamente ainda não houve publicidade no Diário Oficial da União. A não ser que esteja embutido no recente acordo comercial fechado com a Telefônica, um caso raro de empresa de telefonia que fornece soluções da Microsoft e conseguiu a façanha de vencer em pregão eletrônico, com preço inexequível, os principais fornecedores destes sistemas da multinacional ao governo.

A ferramenta possibilita à empresa adotar alguns procedimentos de segurança da informação que são louváveis sobre esse ponto de vista, mas não são novidades para o mercado governamental. Esse tipo de procedimento já é usado há anos em qualquer órgão do governo (a Receita Federal, por exemplo, controla os acessos na sua rede e identifica a atuação do servidor dentro dela).

Mas o que chama a atenção é o contexto, o cenário atual da Dataprev, que deixam margens para questionamentos sobre se a direção da empresa tem desconfianças em relação ao seu corpo funcional. Ao ponto de impedir até que eles baixem seus arquivos pessoais.

O “Azure Active Directory”, da Microsoft possibilita, segundo informações da própria Microsoft, em sua página na Internet:

  • O logon único: simplifica o acesso aos seus aplicativos de qualquer lugar
  • O acesso condicional e a autenticação multifator: ajudam a proteger e controlar o acesso
  • Uma única plataforma de identidade permite que você se envolva com usuários internos e externos com mais segurança
  • As ferramentas para desenvolvedores facilitam a integração da identidade aos seus aplicativos e serviços

Até então a Dataprev convivia muito bem sem a necessidade de uso desta ferramenta, já que não há registro recente de fraudes previdenciárias partidas dos computadores da empresa. Isto, porque, a empresa contava com os seus próprios meios, além de outras aplicações, para detectar eventuais falhas de segurança.

Em paralelo, todos os aplicativos Google também foram impedidos de serem utilizados a partir de agora pelos funcionários nas máquinas da empresa.

Para completar, saiu na edição de hoje (17), do Diário Oficial da União, um aviso de licitação, que visa contratar empresa para instalar portais com detector de metais e eclusas no datacenter do Rio de Janeiro. É de se estranhar que até hoje, depois de 45 anos, a empresa não tenha se preocupado com tamanha segurança.

Justamente numa área que sempre exigiu um grau de segurança e acesso de funcionários fora dos padrões normais (nenhuma pessoa estranha ou que não seja do setor consegue entrar lá, pois o local é um verdadeiro bunker, capaz de suportar até uma catástrofe natural como um terremoto, por exemplo). Para quem não conhece informática, é no datacenter que fica concentrado o parque de servidores (computadores de grande porte) que guardam os bancos de dados de uma empresa.

*Por que a direção da Dataprev estaria preocupada agora com a medida? Tem algum funcionário ameaçando explodir tudo por lá?