A que ponto este país chegou

Em todo esse processo político de privatizações, que obviamente visa o “lucro”, e não será só para o ‘bolso’ do governo, esperava pelo menos um mínimo de respeito da direção do Serpro para com o corpo funcional.

Bobagem, de onde não se espera nada é que não virá nada mesmo.

Mas o relato que me fizeram de uma reunião de diretoria ocorrida essa semana – formada só por jovens de 20 aninhos, creio eu – o comportamento do presidente do Serpro Caio Paes de Andrade foi assustador. Ele teria dado um show à parte.

Segundo me contaram, Caio defendeu a demissão sumária de todos os funcionários aposentados do Serpro, mas que ainda estão na ativa. Até aí a discussão entra no campo de uma anomalia, mas que não foi criada pelo Serpro. O país obriga quem se aposenta a continuar trabalhando, para não passar necessidade no fim da vida.

Entretanto, na sua defesa (que poderia até ser justa, se analisarmos friamente o problema) Caio Paes de Andrade exorbitou.

Ao ser alertado que essa decisão não teria respaldo legal, o presidente do Serpro esbravejou feito uma criança que acabara de perder o seu brinquedo predileto, porque o papai o puniu por mau comportamento.

Não satisfeito, convidou os demais diretores a cometerem uma imoralidade, sem que paire depois nenhum drama de consciência em suas cabeças: mesmo sem amparo legal, demitir os funcionários assim mesmo e eles que busquem os seus direitos na Justiça.

E Caio não parou aí.

O presidente do Serpro chegou a alegar que essa medida (a demissão sumária dos aposentados) – deverá levar anos para ser analisada pela Justiça. E mesmo que vençam a causa, a empresa pode já não ser mais a mesma de quando foram obrigados a deixá-la.

Caio Paes de Andrade ainda lembrou aos diretores que, mesmo que os funcionários sejam reincorporados depois via judiciário, ele e os demais já nem estarão mais na direção do Serpro. Portanto, quando e se isso ocorrer, os diretores não poderão ser alcançados judicialmente para responderem por esse ato.

Por mais chocante que seja esse relato, isso só me confirma a suspeita que tinha desde o início, de que Caio Paes de Andrade é um ser desprovido de qualquer senso moral ao tratar a questão da privatização do Serpro.

Esse relato que me passaram pode nunca ter existido, mas não serei eu quem tomará a iniciativa de desmenti-lo. Tem gente habilitada na estatal para isso, caso o próprio Caio não venha a público para negar a informação.

Mas decidi publicá-la assim mesmo porque em se tratando de Serpro tudo é possível. Além disso o caso não é único, não chega nem a ser uma novidade. Já é o segundo episódio mal explicado que ocorre dentro da empresa.

Relembro aqui um pedido de informações protocolado em outubro deste ano pela OLT-RJ junto à direção da estatal, para confirmar as declarações do diretor de Desenvolvimento, Ricardo Cézar de Moura Jucá, contra os funcionários com mais idade do que ele. Que até hoje não se tem nenhuma informação se foram verídicas ou não, ou se houve algum tipo de reprimenda ou não ao diretor.

Esse é mais um episódio que me remete à célebre frase de Nelson Rodrigues e que sirva de alerta para essa turma mais nova do Serpro: “até os canalhas envelhecem.”

*Em breve a hora de vocês também chegará.